sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Até logo...
Ele era baixinho, mas alojava um sábio coração, que aprendeu a sobreviver com cada passo que dava, mesmo que fosse para trás. Seu Matias não está mais entre nós. Deixou aqui na Terra uma semente de valor inestimável, que vai continuar germinando e crescendo pela eternidade.
De poucas palavras, esse grande homem ensinou muito aos poucos que tiveram a honra de conhecê-lo. Para mim, a maior dádiva que ele deixou foi transmitir a todos que o cercavam o grande valor de cada ser humano que encontramos nesse mundo belo e ingrato, gracioso e confuso, pequeno e imenso.
Sim, é das pessoas que podemos tirar as mais preciosas lições. Amigáveis ou distantes, cada uma que cruza nosso caminho tem algo importante a nos passar, seja por palavras, atos, sentimentos ou omissões.
Nada como a convivência para saber como desejamos ser tratados e da mesma forma agir em nossas relações. Nada como um minuto de bobeira do outro para afirmar “eu nunca vou agir assim” e fazer disso um propósito de vida. Nada como uma lágrima de alguém querido para você demonstrar o quão grande é o seu apreço por ele.
Alguns passam por nossas vidas como num estalar de dedos, o tempo necessário para nos deixar firmes marcas. Outras estão ali o tempo todo para nos lembrar de nossas responsabilidades. Tem aquelas que estão na mesma sintonia. E outras, porém, que mesmo trilhando um percurso adverso, conseguem mostrar por que apareceram.
Todas ensinam, com boas e más condutas. E isso é o que mais me impressiona. Por que se preocupar com o que o outro pensa de mim ao invés de tentar assimilar o que de melhor ele tem para oferecer, que são as próprias experiências?
Ainda há uma venda nos olhos da maioria, ainda incapaz de aceitar que viver em grupo é mais do que conveniência. É aprendizado. Seu Matias, com sua simplicidade, sempre falava de reforma, de mudança. Quer coisa melhor para testar nossos limites e valores do que respeitar as diferenças e aprender com elas?
É por assim pensar que eu vivo intensamente todas as relações, sejam as bruscas, as temporárias, no trabalho ou as amizades já consistentes. Por acreditar que ainda tenho muito para crescer que sou boa ouvinte, observadora, às vezes até pé no saco, mas tento sempre tirar uma casquinha de sabedoria de cada um que cruza o meu caminho.
A maioria pode até não se lembrar quem sou ou onde nos cruzamos. O contato pode ter sido mínimo, mas o suficiente para ficar gravado como uma lembrança agradável. Uma certeza: recordo-me com gratidão de todos, mesmo daqueles que o convívio tenha sido doloroso ou ainda haja resquícios de mágoa, pois já está mais do que provado que é das lágrimas de tristeza que nascem os mais valiosos ensinamentos.
Saudade tenho de muitos. Fizeram as próprias escolhas e traçaram planos que não se confundem com os meus. Prefiro não dizer adeus, pois carrego a esperança de que um dia haverá um novo encontro e terei a oportunidade de aprender com eles uma vez mais. De outros, guardo a distância prudente e necessária com a certeza de que encerrei um ciclo.
“Nunca” é uma palavra que exclui do meu dicionário. Por acreditar na eternidade é que ainda espero por novos tropeços, desafios e por que não reencontros. Dizer adeus também é forte demais para quem deseja tudo isso. Por isso, naquela segunda-feira triste e vazia, eu não disse “adeus Seu Matias”. “Até logo e obrigada por tudo” foi ideal.
P.S. Seu Matias faleceu no dia 14 de janeiro de 2011. Era desembargador aposentado e presidente da Casa de Luz Vovó Maria Conga, onde desenvolveu, ao lado da amada Grécia, diversos trabalhos sociais e de socorro a milhares de pessoas que procuram na espiritualidade um acalento para suas dores, inclusive eu.
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