Daí que rolava a festa do ano na cidade. Vaidosa que sou, aprontei-me para o evento com o intuito de arrasar (quem lê até pensa: aí tem qualidade. Ô dó!). Som tocando, papo aqui, como vai acolá e de repente, um senhor com os seus 40 e lá vai cassetada e de aliança nos dedos há pelo menos 20 anos me olha como se nunca tivesse visto um vestido na vida e solta: ahhhhhhh se fosse a 20 anos atrás!
Gente, me segurei para não soltar o #morrediabo mais estrondoso da minha vida, já que apenas alguns metros me separavam da sortuda esposa do dito cujo. Sabe aquela história batida de corna que mantém a pose para se fazer de superior perante as amigas? Pois é, pode até parecer comum, mas tenho certo asco
Esse é um claro exemplo de como é tênue a linha da fidelidade. Se eu fosse desta nova geração de mulheres, criadas comendo frangos abarrotados de hormônios de origem duvidosa e vulgarmente intituladas de piriguetes, teria jogado um charme pro coroa - que, detalhe, não é de se jogar fora. Seria só mais um chifre, verdadeiro? Para mim soa mais falso que o “felizes para sempre” de certos casamentos que vemos hoje em dia, ou da maioria. Longe de mim julgar quem pensa o contrário de mim ou simplesmente é infiel por escolha. Cada um que arque com as consequências dos seus atos.
Como fui criada com muita galinha caipira lá no interior, tenho um jeito ainda fadado de tradicional de pensar a fidelidade, ainda mais quando se foi traída por 90% de seus namorados. Vou nem falar quantos tive para não parecer mais dramática a situação, garanto apenas que foi o suficiente para o ter o pé atrás com todos os homens que se aproximam. Aí você pensa que por isso desisti da fidelidade, especialmente quando uma traição específica causou uma dor inexprimível, que cinco anos depois ainda não consigo definir ao certo como foi e graças aos céus não voltei a sentir. Mas não desisti, e me orgulho muito disso.
A meu ver, vago e inexperiente para a maioria, a fidelidade é a base para uma história sólida e de boas lembranças. É confiança e respeito para com o companheiro e, acima de tudo, consigo mesmo. É aproveitar a oportunidade ímpar de viver com aquela pessoa uma passagem exclusiva da vida, em todos os sentidos. Não é deixar que o outro seja o escolhido. É ter o privilégio de ser a escolha certeira de outrem, mesmo que por tempo limitado. É conviver sem culpa e por inteiro.
Nunca consegui começar um novo relacionamento sem antes ter a certeza de que os laços anteriores foram rompidos, mesmo que bruscamente. Até mesmo com o tal do PA* - sim, já tive e recomendo - rola fidelidade. Posso até não ser a única dele, porém sou exclusiva durante o período que determinamos para nos relacionar. Certeza que alguém está afirmando internamente: “é por essas e outras balelas que já não tem mais banco pra Cláudia sentar”.
Comigo sempre aconteceu assim: um de cada vez para não virar bagunça. Porque sou bem ciente dos meus limites e valores e, por isso, sei exatamente o que vai fazer minha consciência pesar. Também por via das dúvidas nunca testei meus limites para comprovar essa tese. Vai que a dor seja tão insuportável como a que senti quando fui traída pelo cara que mais gostei nesses míseros anos de vida. Não sei se suportaria.
Também não vou dar uma de santa. Se assim fosse não estaria neste mundo de provas e expiações, que sempre reserva tentações para a jornada. E que tentações, cá entre nós. No entanto, traída como fui e por não desejar essa dor miserável a ninguém (e isso inclui as piriguetes tá gente?), valorizo a fidelidade. A coisa anda tensa, diga-se de passagem, pois a proporção de homens gays e safados beira quase metade a metade. Mas romântica que sou, ainda sonho em ser exclusiva para alguém. E que seja eterno enquanto dure.
*PA (substantivo masculino): sigla usada na contemporaneidade para designar o sujeito escolhido para levar a mulher ao céu durante o sexo sem, no entanto, envolver laços sentimentais e com o qual ela terá a chance de viver momentos tão, mas tão singulares, que só terá coragem de revelá-los às netinhas durante crises de Mal de Alzheimer, como que a aconselhar: “olha minha netinha, amar de verdade você amará poucos ou apenas um, mas nem por isso você deve esquecer que o restante dos homens tem algo de bom a oferecer. E como tem”.
A minha visão é beeeem diferente da sua, amiga. Mas eu já não discuto essas coisas mais. Felicidades a você, da forma como lhe convier! :)
ResponderExcluirWanessa estou me tornando seguidora fiel, tá vendo? E mais uma vez adorei as suas palavras. E se acreditar na fidelidade, sinceridade, confiança e respeito para com o companheiro nos faz românticas sonhadoras, fazer o que né? Vou morrer sonhando. Super Bjo...... E escreve mais que eu estou adorando.
ResponderExcluirWanessa, seu texto está ótimo. Penso como você no que diz respeito a estar com a outra pessoa por inteiro, mesmo que não seja algo assumido, mas que a outra possa se sentir a única e assim se perceber mais valorizada.
ResponderExcluirE como você diz: "Mas romântica que sou, ainda sonho em ser exclusiva para alguém". Assim seja.
Hilário Henrique