quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O encontro com Cristina



Em meio à turbulência de um drama familiar encontrei a principal motivação que hoje me mantém de cabeça erguida. Contava com meus 16 anos quando minha mãe me convidou para ir a um “lugar diferente”, como ela descreveu. Fui sem receio e amarras, afinal, qualquer ajuda naquele momento de aflição seria muito bem-vinda.

Não era aquela uma casa de oração como estava acostumada, como crismada e católica praticante. Mesmo assim, a simplicidade e o aconchego do local me deixaram extremamente à vontade. E o que para muitos cristãos seria motivo de protesto e até medo, estranhamente foi movedor de uma paz interior que há muito não sentia.

“Era uma casa espírita”, pensei, o que foi comprovado com a abertura do trabalho daquela tarde quente e ensolarada de quinta-feira, iniciado com a leitura do Evangelho codificado por Alan Kardec. Após uma breve explanação do leitor, eis que uma senhora aparentando 40 e poucos anos entra no recinto, acompanhada de um senhor baixinho, que depois fui saber que se tratava do marido, e de um rapaz com deficiência física, seu filho.

Naquele momento, senti uma simpatia por aquela mulher que transparecia cansaço no rosto, mas que tinha um brilho intenso no olhar, daqueles que cativam a todos, mesmo sem explicação óbvia para tal. Com um vestido branco, que parecia de criança, ela chamou aos presentes, 20 pessoas aproximadamente, a fazerem um círculo para de mãos dadas rezar.

De olhos cerrados e com voz doce, Grécia pediu para que o trabalho daquele dia fosse protegido por Oxalá e pelo mentor espiritual da casa, Pai Jerônimo, e que todos que ali estavam voltassem a seus lares melhores do que chegaram. O momento foi encerrado com a oração do Pai Nosso.

A médium então começou a cantar uma música até então desconhecida para mim. Como uma prece, a canção pedia às andorinhas que trouxessem os anjos lá do céu. E como num passe de mágica, Grécia incorporou a menina Cristina que, como criança que é, chegou pulando e batendo palma.

Tudo ali era novo e extraordinariamente belo para mim, mesmo que anteriormente não tivesse contato nenhum com a doutrina espírita ou com a umbanda. O medo poderia ter tomado conta do meu coração, mas, ao contrário, senti uma extrema felicidade pela chegada daquela menina que falava enrolado, mas que a todos tinha muito a ensinar e aconselhar.

Lágrimas começaram a correr descontroladamente dos meus olhos, abri um sorriso e meu coração batia como a dizer: voltei para o lugar que nunca deveria ter saído. Sim, senti como se tudo ali já fosse conhecido. "Estava em casa, mais uma vez", pensei irracionalmente. Quando iniciamos nossa primeira conversa, Cristina logo me revelou: “você vai trabalhar com meu burro”, referindo à missão mediúnica que eu iniciava ali e da qual Grécia seria companhia e mentora tão querida.

Quase dez anos depois do meu primeiro encontro com Cristina, muitas coisas aconteceram. Alegrias, decepções, prazeres, separações, lembranças imensuráveis. Quantos amigos espirituais conheci após aquele dia e que hoje fazem parte da minha rotina, mesmo que não os veja. O importante é sentir o conforto, a proteção e a alegria que eles me trazem a cada instante.

Para muitos, este post é uma revelação, um susto e até motivo de afastamento, mas o encontro com Cristina abriu um caminho sem volta. Hoje, a umbanda e a doutrina espírita fazem parte da minha vida e são o principal motivo para eu seguir em frente, para lutar pelos meus sonhos, para acreditar que um dia serei digna de encontrar a felicidade, para ajudar aos que amo e até mesmo aos desafetos. Não tem como não agradecer todos os dias por aquela quinta-feira.

3 comentários:

  1. Linda história...como você sabe amo conhecer cada denominação religiosa. Antropologicamente falando, percebo que o ser humano está em busca de encontrar-se, encontrar-se com o sagrado, independente de religião ou vertentes da mesma, mas ao procurar por esse sagrado busca algo que vai além do sagrado, busca se auto conhecer, é um caminho que se faz sozinho mas que há ajuda de amigos tanto físicos quanto espirituais(como acredito que sua fé crê).
    Resumindo, o que posso te dizer é que:
    Somos felizes onde encontramos o lugar do nosso coração!!!

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  2. Você sabe o quanto acho bom discutir e conhecer mais desses assuntos com você, né? Acho super digno você dividir isso com o mundo! E acho melhor ainda isso tudo te fazer tão feliz! =)

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  3. Oi Wanessa, e mais uma vez eu aqui, como leitora fiel. E vc como sempre, me surpreendendo a cada dia mais. Grande bjo e parabéns.

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