quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Deixe-me viver



Era uma reunião como as outras do centro espírita que frequento. Enquanto aguardava o atendimento, deixei-me levar pela leitura. Ao meu lado, um rosto conhecido. Algumas conversas em outras ocasiões sem nenhuma intimidade que me levasse a confundir o coleguismo com amizade.

De repente, aquela mulher de trinta e poucos solta uma frase que nunca vou esquecer:

- Este livro mudou a minha vida!

Em meio à minha admiração, ela continuou: 

- Se hoje sou feliz, devo a este livro! A minha filha é linda!

Nada comentei. Seus olhos verdes marejados ainda ficaram vidrados por um tempo nas páginas daquele livro, que dali em diante transformaram-se para mim. Contive-me para não chorar. Ao meu lado, uma mulher que resolveu ser mãe mesmo com todas as dificuldades, desafios e responsabilidades que um filho pode acarretar. Tudo por causa daquelas páginas que, para muitos, não passam de fantasias. 

Deixe-me viver, de autoria do espírito Luíz Sérgio, marcou a vida daquela mulher. A minha também. Ainda não sou mãe, mas é o meu maior sonho. Não quero aqui forçar ninguém a acreditar na doutrina espirita. Quero apenas fazer uma reflexão. Independente de religião, para todos que defendem que a vida se inicia na concepção, fica a pergunta: o que acontece depois de um aborto? Como fica esta vida depois da interrupção da gravidez?

É exatamente isto que Luiz Sérgio trata. Absurdamente real para os adeptos do espiritismo, a linguagem direta e as demonstrações dolorosas fazem, sem sombra de dúvidas, qualquer curioso parar para pensar sua opinião. A cada história, uma reflexão sobre as consequências de atitudes regradas por nossa insana humanidade é levantada. Luxúria, egoísmo exacerbado, omissão de responsabilidades, falta de caridade são demonstradas de forma nua e crua.

Sim, esta forma inconsequente como vem sendo tratada a questão do aborto atualmente me relembrou essa mulher e esse livro. Levar para o jogo sujo da política algo tão sério é condizente a querer transformar Deus em cabo eleitoral. Política e religião não se discute, muitos dizem. Em um país laico, não deveriam se misturar. Cristão também é eleitor, claro, mas crenças não são votadas em plenário.

Mais do que saúde publica, o aborto é uma escolha. E como para toda ação há sempre uma reação – é a física da vida – ceifar uma vida desta forma gera efeitos que, na maioria das vezes, são dolorosos. Não precisa ser espírita para saber disso. Todos os dias, aparecem histórias de mães traumatizadas física e psicologicamente, mutiladas pela culpa que carregarão pelo resto de suas vidas. Diante disso, não há lei humana que seja eficaz o bastante.

Num Brasil onde várias leis são promulgadas e poucas são seguidas, discutir a descriminalização do aborto é quase irrisório. Não sou a favor de tal mudança. Se a norma continuar como está ou mudar, ainda assim vão existir mulheres despreparadas para ser mães e que vão procurar métodos ou clínicas clandestinas na tentativa de se livrar do “problema”.

É o retrato de um mundo que se diz civilizado, mas que ainda engatinha pela barbárie, o espelho de uma humanidade que tem muito a caminhar para entrar nos eixos. Pode demorar décadas, séculos, milênios para isso acontecer. Vai saber. Essa também é uma questão de escolha.

4 comentários:

  1. Lindo texto, Wanessa!
    Expressou muito delicadamente a sua opinião!

    ResponderExcluir
  2. Olá minha linda!!! Parabéns pela iniciativa!!! To de olho viu... Bjus!!!!

    ResponderExcluir
  3. João, que saudades de vc! Valeu por seguir!

    ResponderExcluir
  4. incrivel,...
    se tiver facebook procura pelo livro e participe!

    ResponderExcluir